a

a

sábado, 17 de março de 2012

Novo cabelo e novo impulso depois da quimioterapia.


Por Kathleen Schaefer, The New York Times News Service/Syndicate
 
 Em uma sexta-feira no início deste ano, numa casa de pedra calcária em Manhattan, "coisas relacionadas ao câncer, como o linfedema", eram o assunto da conversa, contou Sherry Kreek, que atualmente se submete a uma quimioterapia para tratar um câncer de mama.
"Nós estávamos falando sobre coisas bastante pessoais", continuou. "Outras mulheres estavam ouvindo. Todo mundo conhece alguém."
A conversa não estava acontecendo na sala de espera de algum oncologista, ou durante um almoço, mas no Sharon Dorram Color at Sally Hershberger, um aconchegante salão de beleza com seis cadeiras, onde Kreek, de 62 anos, é a gerente.

Três mulheres com cabelos supercurtos e que nunca tinham se visto até aquele momento haviam ido ao salão de Dorram, cuja lista de clientes inclui Christie Brinkley e Linda Evangelista, para tingir os cabelos pela primeira vez desde que eles voltaram a crescer depois do tratamento contra o câncer. Elas não estavam tímidas ao falar sobre o novo cabelo e sobre o que fariam com ele, sobre o quanto gostavam de suas perucas ou, menos ainda, sobre a doença que compartilhavam.
"Aquele era um lugar mais animado, mais feliz para se conversar do que o centro de tratamento", afirmou Kreek.
Há uma década, as mulheres que vinham ver Dorram, que na época trabalhava com John Frieda, depois da quimioterapia ou da radioterapia chegavam de maneira furtiva. Elas tiravam a peruca no banheiro ou agendavam horários no começo do dia, para não ter que dividir o salão com clientes saudáveis.

"Você se sente vulnerável", afirmou Kreek, que conheceu Dorram no salão de John Frieda quando voltou a pintar o cabelo de loiro depois de sua primeira sessão de quimioterapia em 2003. "Você não quer entrar em uma sala com mulheres cheias de cabelo dizendo 'Eu gostei quando você fez isso da última vez'. Dá vontade de dizer: 'Calem a boca'."
Agora, para muitas mulheres que perderam o cabelo durante o tratamento contra o câncer, pintá-los é fortalecedor - e fazer isso em uma sessão aberta e onde todas conversam é ainda melhor.
"Elas se sentem bem novamente", afirmou Alexis Antonellis, colorista que trabalha no salão de Oscar Blandi e que frequentemente atende clientes que querem pintar o cabelo após a quimioterapia. "Elas querem voltar a ser como eram. Ficam tão empolgadas ao se sentarem em uma cadeira e recuperarem sua vida. É muito legal. Você precisa ver o sorriso delas."
Mesmo Kreek, que usa uma incrível peruca loira até a altura dos ombros porque seu cabelo ainda não cresceu o bastante para ser pintado, se tornou menos defensiva. "Eu costumava pedir para que eles lavassem minha peruca na minha cabeça", afirmou. "Agora, eu simplesmente a entrego."
Ela planeja que Dorram pinte seu cabelo a tempo para as férias em Palm Beach, na Flórida.
"Eu sempre fui loira, desde criança", afirmou. "Nem sempre foi natural, mas esse cabelo acinzentado não tem a ver comigo. Eu sou definitivamente loira. Não sou uma pessoa de cabelos grisalhos, não importa o que meu corpo diga."

É de se esperar que pacientes com câncer desconfiem de processos químicos, especialmente daqueles que foram pesquisados quanto à possível carcinogenicidade, como é o caso da tintura para cabelo. A Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer, parte da Organização Mundial da Saúde dedicada a identificar as causas do câncer, disse que a tintura para cabelo "não é classificável quanto a sua carcinogenicidade para os seres humanos", com base na falta de evidências em estudos com pessoas.
Em seu site, o Instituto Nacional do Câncer escreve que, mesmo que "alguns estudos indiquem que pessoas que começaram a utilizar tinturas para cabelo antes de 1980 têm maior risco de desenvolver um linfoma não-Hodgkin, as evidências do aumento do risco da ocorrência de outros cânceres em função do uso de tintura para cabelo são limitadas e conflitantes".
"Nenhuma possibilidade é descartada", afirmou Antonellis sobre as tinturas que utiliza. "Mas eu sempre penso em respeitar a integridade daquilo que elas têm e do ponto do tratamento em que elas se encontram."

O Dr. James Speyer, que é o diretor médico do Instituto do Câncer do Centro Médico Langone da Universidade de Nova York e também o oncologista de Kreek, afirmou que encoraja as mulheres a pintarem o cabelo caso isso as faça se sentirem melhor. "Eu entendo que não há qualquer risco", afirmou.
"É perfeitamente saudável que as mulheres pintem seus cabelos. Isso é obviamente importante para elas e não há qualquer risco de que as tinturas normais para cabelo causem outros cânceres."
E isso não é um assunto exclusivamente feminino. "A aparência das pessoas é uma parte muito importante de sua abordagem do diagnóstico e do tratamento do câncer e não há nada mais importante para ajudá-las a superar este período do que uma sensação geral de bem estar."

Amy Katz, de 48 anos, de Westport, Connecticut, cujo câncer de mama foi diagnosticado em junho de 2008, notou que seu cabelo estava crescendo mais grisalho após o tratamento. "Você começa a ficar parecida com a Jamie Lee Curtis", afirmou. A primeira pessoa para quem ela ligou foi sua oncologista. "Você está comendo perfeitamente e está fazendo tudo direito", ela disse. "A gente fica pisando em ovos, então eu perguntei, 'Você acha que eu posso pintar meu cabelo?'".
"Loirinha", respondeu sua oncologista, "Você pode pintar seu cabelo da cor que quiser".
John Barrett, que tem um famoso salão com Bergdorf Goodman, afirmou que o cabelo normalmente cresce mais enrolado e um pouquinho mais cinza.
"De forma geral, quando o cabelo volta a crescer, ele cresce bem diferente, mas depois de um ano ele volta à textura normal", afirmou. "Eu costumo recomendar que as pessoas esperem um pouco antes de escolherem a cor, mas normalmente sugiro que elas escolham uma cor mais clara e que elas façam alguns reflexos".
Depois da permissão de sua oncologista, Katz voltou a ser loira. "As pessoas faziam com que eu sentisse parecida com a Sharon Stone, independentemente de isso ser verdade ou não", comentou.
A coisa mais importante para ela era voltar a ter a mesma aparência de antes do câncer. "Você quer provar que é capaz de escalar o monte Kilimanjaro, descer pelo outro lado e retomar sua vida de onde ela parou", afirmou. "Você quer saber que é capaz e ter a mesma cor de cabelo faz parte disso".
Alguns pacientes celebram a mais nova fase de suas vidas com um estilo radicalmente diferente. Kat King, atriz de quarenta e poucos anos que também teve câncer, pintou o cabelo de uma tonalidade mais loira após a quimioterapia.
"Antes do câncer, eu tinha a aparência de uma moça comum, como a Jennifer Aniston", comentou. "Agora eu sinto que tenho uma Annie Lennox dentro de mim. Isso me deu forças para explorar esse aspecto da minha personalidade. De todas as mudanças que ocorreram, meu cabelo foi a que fez mais diferença", afirmou King.
"Eu tinha tanto medo de perdê-lo e estava muito assustada com o que via no espelho, mas então, eu percebi que aquilo era uma benção. A última coisa que eu esperava era que o câncer me desse um novo visual."
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times._NYT_

Nenhum comentário:

Postar um comentário